quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Donos da Mídia

"Donos da mídia" lideram corrida por prefeituras de Salvador, São Paulo e Curitiba

Em pelo menos três das seis capitais mais populosas do país, líderes nas pesquisas de intenção de voto para o cargo de prefeito são também donos de empresas de radiodifusão ou acionistas. ACM Neto (DEM), Celso Russomano (PRB) e Ratinho Jr. (PSC) ocupam a cabeça da competição pelas prefeituras de Salvador, São Paulo e Curitiba. Segundo declarações de bens disponíveis no site do TSE, todos os três candidatos são acionistas de empresas de radiodifusão.

(*) Artigo publicado originalmente no Observatório do Direito à Comunicação

O cenário eleitoral em algumas grandes cidades do Brasil aponta para a possibilidade de reforço na concentração do poder político e midiático. Em pelo menos três das seis capitais mais populosas do país, líderes nas pesquisas de intenção de voto para o cargo de prefeito são também donos de empresas de radiodifusão. ACM Neto (DEM), Celso Russomano (PRB) e Ratinho Jr. (PSC) ocupam a cabeça da competição pelas prefeituras de Salvador, São Paulo e Curitiba respectivamente, representando a possibilidade de que o próximo prefeito nesses lugares centralize o controle sobre o poder Executivo e sobre um grupo de mídia.

De acordo com as declarações de bens disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral, todos os três candidatos mencionados são acionistas de empresas de radiodifusão. ACM Neto participa com R$ 9.384.042,00 do capital social da TV Bahia, enquanto Russomano com R$ 22.800,00 da Rede Brasil FM, em Leme (cidade localizada no interior do estado de São Paulo) e Ratinho Jr. com R$ 29.698,00 do Grupo Massa, que detém concessões de rádio e TV na capital e no interior do Paraná. As quantias declaradas, porém, dizem pouco sobre os casos e o grau de controle direto dos candidatos sobre as empresas. Sendo propriedade compartilhada com familiares, a sua influência na direção dos negócios pode ser muito maior e mais difícil de compreender.

Casos semelhantes, fenômenos distintos
A família de ACM Neto ficou conhecida nacionalmente pela abrangência do seu poder político que já se estende por algumas décadas e que se concentrou em torno da figura de seu avô Antônio Carlos Magalhães. Foi por meio desse poder político que os familiares tiveram acesso privilegiado às concessões de radiodifusão e aos acordos com a Rede Globo que garantiram a consolidação dos negócios em comunicação do grupo baiano. O patriarca em entrevista publicada no livro “Política é Paixão” afirmava não ver problema nenhum nos fatos ocorridos. “Meus amigos terem concessões não é nada demais. Acho isso tão correto quanto você trabalhar”, afirmou.

Pedro Caribé, integrante do Coletivo Intervozes e membro do Conselho de Comunicação Social do Estado da Bahia, vê no processo eleitoral uma prova de que as “relações de poder passam necessariamente por um intermediação dos meios de comunicação”. Ele lembra que ACM Neto não é apenas acionista de uma TV VHF, mas vinculado ao grupo Rede Bahia, composto também por outras empresas como uma emissora UHF (TV Salvador), o jornal de maior circulação do estado (Correio) e três rádios (Globo FM, Bahia FM e CBN). Aponta que os concorrentes, embora não declarando-se proprietários, também possuem fortes vínculos com grupos midiáticos. “Vale lembrar que outro candidato, Mário Kértz (PMDB), também é proprietário e apresentador de rádio. Já o bispo Márcio Marinho (PRB) é ligado à Rede Record, que tem a TV e Rádio Itapoan, além da Rádio Sociedade”, afirma.

No caso do candidato paulista Russomano, não se trata de um grande grupo de comunicação afiliado a uma rede nacional, mas de uma pequena rádio do interior do estado que dificilmente poderia interferir no jogo político da capital. Apesar, porém, de sua recente e pequena participação no mercado de comunicação, exemplifica um tipo de prática polêmica e comum no país, em que se “arrenda” uma concessão, transferindo a autorização para explorar um canal de radiodifusão sem o amparo legal e legítimo dos órgãos responsáveis. Efetiva-se, assim, de fato a apropriação privada de um bem público.

Além disso, o candidato ficou conhecido pelo seu trabalho na televisão, em que atuava em colunas sociais, programas populistas de defesa do consumidor e sensacionalistas. Segundo Suzy Santos, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “Russomano é exemplo de outro fenômeno político que são estas estrelas midiáticas que migram para a vida política.

Este é um fenômeno mais global e relativamente perene. Reagan, Schwarzenegger, Cicciolina são exemplos internacionais deste mesmo fenômeno”. Convidado pela TV Record em 2011, deu seqüência ao seu papel de “defensor do cidadão” na TV, aproximando-se também dos setores evangélicos e principalmente da Igreja Universal do Reino de Deus, que dirige a emissora.

Ratinho Jr. representa em alguma medida uma mistura dos dois casos anteriores. Encontra-se também vinculado a uma rede nacional (além de ter interesses no setor de agronegócio), sendo que seu pai é um conhecido apresentador de programas de televisão sensacionalistas que se tornou empresário de comunicação e já ocupou cargos políticos. Entretanto, os negócios da família na área da comunicação são recentes e o próprio candidato não seguiu os passos do sensacionalismo na mídia.

Assim como no caso de ACM Neto, os vínculos familiares na política e nos negócios são explícitos no caso de Ratinho Jr. (ambos herdaram até o próprio nome dos chefes de família). No entanto, “nem Ratinho, nem seu filho podem ser considerados líderes políticos nas suas regiões de origem. Disputam o poder com forças diversas. Também suas emissoras não são as mais relevantes na região. Em Curitiba, o Grupo Paranaense de Comunicação, dono da Rede Gazeta, tem muito mais poder político e econômico que a Rede Massa”, afirma Suzy Santos.

Em todos os três casos as atuais prefeituras se encontram ocupadas por indivíduos de outros grupos políticos, em que não há propriedade direta declarada de nenhum veículo de comunicação. Embora seja difícil a comprovação do uso político das emissoras por parte dos candidatos, há pelo menos uma acusação de favorecimento do proprietário da empresa nas transmissões realizadas. Em Salvador, por exemplo, o petista Nelson Pelegrino, segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, afirma que a TV Bahia fez propaganda subliminar de ACM Neto, destacando-o de forma indevida no aniversário de cinco anos de morte de seu avô.

Fonte: www.cartamaior.com.br

quinta-feira, 19 de julho de 2012

‘A partir de d. Paulo mudou tudo’, diz Frei Betto sobre apoio da Igreja ao golpe


O religioso, um dos principais nomes na luta contra a ditadura, conta que foi Dom Paulo quem levantou a bandeira em defesa dos direitos humanos após as denúncias de torturas


No primeiro momento, a Igreja Católica e outras organizações religiosas apoiaram o golpe militar de 1964. Alguns religiosos, como o então cardeal de São Paulo d. Agnelo Rossi, chegaram a encobrir torturas e outras atrocidades. Foi só com o passar do tempo, o surgimento de denúncias rotineiras sobre desrespeitos aos direitos humanos e a caracterização cada vez mais clara do regime como uma ditadura, que a Igreja mudou de lado e passou a ser um dos pilares na defesa da democracia. A opinião é do escritor Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, testemunha e personagem desta história.
Durante a conversa com o iG na sala de música do convento dos dominicanos, um oásis de árvores e passarinhos encravado no bairro do Sumaré, zona oeste de São Paulo, Frei Betto disse que a situação mudou a partir da intervenção direta do papa Paulo VI, que substituiu d. Rossi por d. Paulo Evaristo Arns. “A partir de d. Paulo mudou tudo”, afirmou.
iG - Em vários momentos a Igreja Católica e outras organizações religiosas ajudaram no combate à ditadura militar. Havia uma articulação entre elas?
Frei Betto – Na verdade, quando houve o golpe em 1964 a Igreja Católica, através da CNBB, apoiou agradecendo a Nossa Senhora Aparecida ter livrado o Brasil da ameaça comunista. Ocorre que setores da Igreja, em especial a JUC (Juventude Universitária Católica) da qual eu era dirigente e a JEC (Juventude Estudantil Católica), que faziam parte da Ação Católica, estavam muito identificados com a esquerda e contra a ditadura. Eles já haviam inclusive dado origem a um dos grupos de esquerda duramente reprimidos, a Ação Popular, da qual Betinho (o sociólogo Herbert Souza, morto em 1997) foi um dos fundadores. Então a repressão, que no início ficou muito confortável com o apoio da CNBB, passou a achar que a Igreja fazia jogo duplo. Porque ela fazia um discurso de apoio aos militares, mas na prática estava contra. Para vocês terem uma ideia, nós da JUC e JEC morávamos juntos no Rio de Janeiro e fomos presos no dia 6 de junho de 1964, isso tudo eu descrevo no livro “Batismo de Sangue”. E porque fomos presos? Havíamos feito algum movimento contra a ditadura? Não. Fomos presos na chamada noite do arrastão da Ação Popular. Para o Cenimar (órgão de inteligência da Marinha), Ação Católica e Ação Popular eram a mesma coisa. Ficamos 15 dias presos. Não houve processo nem nada.
iG – Como a Igreja reagiu a isso?
FB - Aí começou aquilo que aos olhos da ditadura era jogo duplo e com atitudes de bispos progressistas cada vez mais críticos à repressão na medida em que ela vai crescendo. A partir daí muitos bispos, com destaque para a atuação de d. Helder Câmara, começam a defender as vítimas e vai se alargando o fosso entre a Igreja Católica e a ditadura. Isso também acontecia em menor escala com outras Igrejas. E o caldo entornou com a prisão nossa, dos dominicanos, em 1969, e o assassinato do padre Henrique Pereira Neto, da pastoral da juventude do Recife. Ele foi torturado, assassinado e jogado no campus universitário. E nós torturados, Frei Tito massacrado, depois veio a morrer em consequência disso.
Assista a trecho do filme Batismo de Sangue, que mostra cenas de tortura

iG – O apoio continuou quando surgiram as denúncias de tortura?
FB - Tínhamos algumas figuras de proeminência na Igreja Católica como o cardeal Vicente Scherer no Rio Grande do Sul e o cardeal Agnelo Rossi aqui em São Paulo do lado da ditadura, dizendo que não havia tortura. Tanto que quando o Rossi foi nos visitar no Dops ele nos viu todos quebrados, nós dissemos que havíamos sido torturados, o delegado disse “não eminência, eles caíram da escada” e o Rossi saiu do Dops e disse à imprensa que não houve tortura.
iG – Houve participação do Vaticano na mudança de postura da Igreja brasileira?
FB - Roma nos apoiou na figura do o cardeal Agostinho Casarolli, segundo na hierarquia do Vaticano. Portanto, o papa Paulo VI nos apoiou. O governo geral dos dominicanos em Roma também nos apoiou e quando o papa ficou sabendo do episódio no Dops decidiu tirar o d. Rossi de São Paulo com aquele esquema que a Igreja usa de promover para remover. O papa pediu para o cardeal Rossi ir a Roma e então aconteceu um episódio folclórico. O Rossi ficou hospedado no mesmo lugar onde sempre ficam os brasileiros, chamado Pio Brasileiro, e celebrou uma missa dizendo no sermão que no Brasil não havia tortura, que tudo era uma campanha comunista. Em seguida, depois do sermão, na oração dos fiéis, os seminaristas brasileiros começaram a dizer “rezemos por fulano, assassinado pela polícia nas ruas de São Paulo segundo o ‘Observatório Romano’, rezemos pela sicrana que foi muito torturada segundo a ‘Rádio Vaticana’”, etc. Eles acabaram com o Rossi, pois as fontes eram os próprios veículos de imprensa do Vaticano. Quando Rossi voltou para São Paulo na chegada ao aeroporto foi comunicado por jornalistas sobre sua demissão e que d. Paulo Evaristo Arns, que era auxiliar dele, era o novo arcebispo. E a partir de d. Paulo mudou tudo.
iG - As tensões diminuíram?
FB - Não. Se agravaram porque d. Paulo bateu de frente com a ditadura todo o tempo. Foi ele quem fundou o grupo Clamor, a Comissão de Justiça e Paz, o Brasil Nunca Mais. Uma série de instrumentos que ele foi criando para defesa dos direitos humanos. E assim a Igreja foi se afastando até o ponto de emitir notas contra a ditadura.
iG – A preocupação com os direitos humanos ficou acima das ideologias políticas?
FB - Tinha um padre da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade) que nos visitava e não acreditava na existência de tortura até o dia em que viu o Frei Tito chegar do DOI-Codi todo arrebentado. O padre entrou em parafuso porque era um homem honesto.
iG – A ditadura tentou impedir a ação da Igreja?
Frei Betto conta que d. Paulo bateu de frente com a ditadura 'todo o tempo' e denunciou as violações
FB - Proibiram que estrangeiros nos visitassem porque nós, os dominicanos, éramos a caixa de ressonância mais forte na Europa sobre os arbítrios da ditadura. Nós tínhamos a Igreja por trás. Ninguém na esquerda tinha algo parecido. Tanto que nos separaram. Ficamos dois anos como presos políticos e os dois últimos anos como presos comuns. Fomos parar no Carandiru e depois em Presidente Venceslau. Depois da proibição aos estrangeiros o bispo de Lins foi nos visitar no presídio Tiradentes com o cardeal holandês Bernardus Alfrink, um dos mais progressistas da Igreja. Sabendo da proibição aos estrangeiros o bispo falou que o cardeal era seu sacristão. O cardeal então nos entrevistou, anotou tudo, na mesma noite embarcou para a Holanda e ao chegar a Amsterdam toda a imprensa já estava convocada para uma coletiva na qual foi tudo denunciado. E assim a posição das igrejas foi mudando até chegar ao ápice com o livro Tortura Nunca Mais (com mais de mil relatos colhidos clandestinamente entre 1979 e 1985 com apoio de d. Paulo, o rabino judeu Henry Sobel e o pastor protestante Jamie Wright).
iG – O cerco maior foi em torno dos dominicanos?
FB – Não só. Temos o caso dos padres franceses, a tentativa de assassinar d. Pedro Casaldáliga e aí eles mataram um outro padre jesuíta lá em Rio Bonito. Havia uma festa, dom Pedro estava com roupas normais e o padre vestido de clérigo. Acharam que o padre era o bispo e o mataram. Teve muitos outros episódios que foram tão fortes quanto o nosso.
iG – Havia algum respeito dos militares pelo fato de vocês serem da Igreja?
FB – Não. De jeito nenhum. Ao contrário. Por que o Frei Tito morreu em função da tortura? Nossa prisão foi igual à dos demais. A repercussão foi muito grande. Saiu na imprensa do mundo todo. O que aconteceu foi que quando a ditadura se deu conta da repercussão ela percebeu que não tinha sustança para justificar a violência com que fomos presos e decidiu que nós tínhamos que assinar um documento assumindo que havíamos participado de operações armadas. O primeiro a ser retirado do presídio Tiradentes para assinar o documento foi o Frei Tito. Ele não assinou, foi três dias torturado dia e noite até o ponto em que ou ele cedia ou morria. Então ele cortou o pulso com uma lata e com isso impediu que os demais passassem pela mesma coisa. Mas a partir daí ele ficou todo quebrado psicologicamente. Isso teve uma repercussão imensa. A revista Look deu ao Frei Tito o prêmio de melhor matéria do ano de 1971.
iG – O papel da Igreja na luta contra a ditadura no Brasil estava dentro do contexto da América Latina?
FB – Sim. As histórias se repetem em alguns países. Mas na Argentina, por exemplo, foi o contrário. Lá a Igreja apoiou oficialmente a ditadura. Embora padres e bispos tenham ido contra, a conferência episcopal apoiou a ditadura até o fim ao ponto de nomear capelães que participaram de sessões de tortura e dos voos da morte. Mas em geral a Igreja da América Latina foi contra as ditaduras.
iG – A Igreja ajudava a conscientizar os fiéis sobre as arbitrariedades do regime?
FB – No primeiro momento, a Igreja foi totalmente a favor da ditadura. Chegaram a permitir a vinda do padre Patrick Peyton, americano, que era agente da CIA e promoveu aquelas marchas da família com Deus pela liberdade usando a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Depois a Igreja foi recuando e se tornando crítica. Aqui na nossa igreja, por exemplo, a missa aos domingos lotava porque o sermão feito pelo Frei Chico era sempre crítico à ditadura. Ele tinha o cuidado de mimeografar para distribuir na saída. Tinha gente até na calçada de uma igreja em que cabem 800 pessoas sentadas. Não era por fé. Ali era um espaço onde se respirava liberdade. Enquanto isso ocorria um outro fenômeno que eram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) crescendo por baixo, sem chamar atenção da repressão. E elas são a sementeira de todo movimento social que veio depois. Hoje é difícil encontrar um político de extração popular que não tenha origem nas CEBs. O Lula é uma exceção.

Fonte de trabalho: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-07-19/a-partir-de-d-paulo-mudou-tudo-diz-frei-betto-sobre-apoio-da-igreja-ao-golpe.html

domingo, 15 de julho de 2012

Criminoso nazista mais procurado do mundo é encontrado em Budapeste



Laszlo Csatary, 97 anos, é apontado como cúmplice na morte de 15.700 judeus durante a Segunda Guerra Mundial


O criminoso nazista mais procurado do mundo, Laszlo Csatary, 97 anos, acusado de cumplicidade na morte de 15.700 judeus durante a Segunda Guerra Mundial, foi encontrado em Budapeste, anunciou neste domingo o diretor do escritório do Centro Wiesenthal em Isra 

"Confirmo que Laszlo Csatary foi identificado em Budapeste", declarou Efraim Zuroff. "O 'The Sun' pôde fotografá-lo e filmá-lo graças a informações que fornecemos em setembro de 2011", acrescentou.
"Há 10 meses, um informante nos deu elementos que nos permitiram localizar Laszlo Csatary em Budapeste. Este informante recebeu US$ 25 mil que prometemos em troca de informações que permitam encontrar criminosos nazistas", disse Zuroff.
As informações sobre o paradeiro de Csatary foram enviadas em setembro de 2011 à promotoria da capital húngara. O vice-procurador de Budapeste, Jenö Varga, não confirmou a informação, limitando-se a declarar que "existe uma investigação em andamento. A promotoria está estudando as informações recebidas."




quinta-feira, 12 de julho de 2012

Política e repetição de fatos: tragédias ou farsas


Política e repetição de fatos: tragédias ou farsas
A política que já não é tão nobre tem ganhado todos os dias um pouco mais da descrença do cidadão brasileiro, contudo precisa ser ressaltado que é preciso elencar o olhar do povo para desejar o melhor para as cidades. A política toma seus rumos, os políticos por vezes tomam o rumo que os politiqueiros desejam. Rui Barbosa, grande jurista, diplomata e notável escritor, além de extraordinário orador, deixou um escrito que nos faz refletir sobre a atual situação da nossa sociedade e parece que aqueles pensamentos de outrora ainda permanece elucidativo. Escreveu ele: "de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto..." A indignação de Rui Barbosa, ainda que tenha sido no século passado faz sentido e é digna de nossas reflexões.
Sabemos que na política profissional precisa-se fazer alianças, não de meras alianças, mas de junções que permitam ter o maior número de aliados, de preferência com poder financeiro. Afinal, não se faz política sem “recursos”, pois o objetivo central da política desvia-se da conquista do voto do eleitor, para os meandros para conquistá-lo. Quando vi o Lula apertando a mão do Maluf lembrei-me da História do Brasil durante o século XX. Recordo-me de falarmos e estudarmos o tenentismo no Brasil, na década de 1920. Acredito que um dos maiores marcos da História política brasileira foi a Coluna Prestes, percorreu cerca de 25.000 km em território brasileiro até alcançar a Bolívia. Foi um ato que provocou transformação social no Brasil, coadunou com o golpe de 1930 e mais precisamente com Getúlio Vargas no poder, situação que perdurou até 1945. Vargas e Prestes tornaram-se inimigos ferrenhos, Prestes foi preso por ações comunistas, ficou encarcerado entre 1936 a 1945, sua esposa, Olga Benário Prestes, foi extradita para os campos de concentração da Alemanha Nazista e assassinada por ser judia. Os anos passaram Prestes foi liberto, continuou com suas ideologias, contudo, retornemos a “janeiro de 1950” quando ocorreu o inesperado. Getulio Vargas pede apoio ao líder comunista Luís Carlos Prestes para sua candidatura à presidência. Apesar dos anos passados, era o mesmo político que o havia mandado à prisão, proibido a existência de seu partido e, mais grave, enviado sua esposa grávida para um dos mais desumanos campos de concentração da Alemanha nazista. A resposta surpreendeu de companheiros a inimigos: “Não posso colocar os meus dramas pessoais acima dos interesses do partido”. “Aceito apoiá-lo”. O que isso tem a ver com o presente. Como Historiador principiante da ética e decência, recorda-me que até alguns dias Lula e Maluf, eram inimigos políticos: não é legal que nos encontremos em uma estrada sozinhos, pode dar caca. Prestes e Lula são políticos e me fazem pensar sobre a seguinte questão: Eles tomaram tais atitudes, porque são capazes de pensar sempre no melhor para o povo? Ou, é preciso tomar alianças poderosas para adquirir a Prefeitura de São Paulo-SP, a capital sem planejamento, com cultura elitista e sob o poder desta mesma elite há décadas.
Alguém pode questionar os motivos de outrem escrever algo fora da nossa realidade. Será? Tudo se torna bastante questionável, exaltador das discussões dos bastidores da Política, haja vista não está definido e podemos perceber que algo aparece na escuridão das eloquentes conversas análogas das eleições em todo o país.  Poderia dizer como historiador que de quando em vez os políticos precisam negociar aquilo que deve ser melhor para o povo, para as cidades, que precisa voltar a crescer e buscar novos meios de empregabilidade para a população, independente da cidade ou Estado. Contudo, também podemos voltar ao século XVII e dizer, parafraseando Chico Buarque de Holanda, exímio analista de “Calabar: O Elogio da Traição”, que o homem nesta vida precisa nem que seja por uma só vez tomar atitudes e escolher um lado para caminhar. Domingos Fernandes Calabar, um dia mudou de lado, contudo acredita-se que teve a honradez de se manter do lado que seria melhor para o Brasil Colonial do século XVII, mais precisamente do nordeste - açucareiro que prosperava com a colonização mantida naquele período pelos holandeses. A pergunta hoje pode ser: Será que os desejosos de alianças querem parceiros políticos ou politiqueiros? E assim, após a eleição lhes renda cargos de confiança, que não seja em suas cidades, mas pode ser na vizinhança. É pertinente nosso questionamento se levarmos em consideração que os anos vindouros é que ficam em jogo, pois já não há o êxito de se ter a integridade, vale mais a palavra oca sem compromisso. Se o dito popular, em desuso, dizia:  que um fio de bigode era parte da palavra de um homem. O que podemos pensar sobre a palavra política e dos políticos na atualidade? Como podemos definir a conjuntura de políticos que ora se amam ora se odeiam? Como entende-los, localizá-los ou tratá-los politicamente se por vezes criticam e em pouco tempo mudam seus discursos? Não obstante, tratam os seus eleitores como meros receptores de conversas afiadas, falam com os cidadãos tratando-os como analfabetos do mundo político. Tudo bem de os politiqueiros nos tratarem como se todos não quisessem um Brasil melhor, mas, por favor, não nos banalizem tanto. Somos um povo de democracia nascente, mas os Demóstenes não são imaculados. E nem a população é tão modesta que não possa compreender a maldade existente nas jogadas políticas de nossa atualidade.
Claudinei Araújo dos Santos. Licenciado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Nova Andradina. Leciona História e Sociologia na Escola Estadual Profª. Fátima Gaiotto Sampaio. Estuda atualmente religiões e religiosidade no Processo de colonização do Vale do Ivinhema-MS (1954-1980).



sábado, 7 de julho de 2012

Cintos de castidade, mais mito que realidade


Cintos de Castidade, mais mito que realidade.


Os cintos de castidade, comuns na cultura medieval e que eram usados pelos cavalheiros que viajavam para batalhas, longas peregrinações e cruzadas para garantir a fidelidade de suas mulheres, estão mais próximos do mito que da realidade.

Na Academia da Hungria, situada no Palazzo Falconieri de Roma, estão expostas reproduções de todos os tipos desses cintos sob o título "A história misteriosa dos cintos de castidade: mito e realidade".

"Mais mito que realidade porque as pesquisas já demonstraram que a história das cruzadas e dos cavalheiros que teriam garantido a integridade de suas mulheres graças a um instrumento de tortura e sado-fetichismo foi, na realidade, uma grande mentira", disse à Agência Efe Sebestyen Terdik, um dos curadores da amostra.

Observando de perto, é impossível imaginar uma mulher submetida a tal instrumento, de metais pesados, duros e cortantes, trancados com enormes cadeados e que as impediam de caminhar livremente e de se sentar.

Além disso, segundo Terdik, os cintos provocariam feridas e lesões profundas na pele com o passar dos dias, além de infecções vaginais e anais numa época em que era impossível curá-las.

Alguns estudiosos, como James Brundage, historiador da sexualidade medieval, e o organizador da exposição, o húngaro Benedek Varga, diretor do Arquivo e do Museu de Medicina de Budapeste, já expressaram suas dúvidas sobre a veracidade destes objetos.

Alguns deles foram expostos em grandes museus, como o British Museum, que, desde 1846, exibia um original e acabou retirando por considerá-lo uma parte falsa da história.

O cinto de castidade nasceu na expressão latina da linguagem teológica ocidental no século 6 como símbolo religioso ligado ao conceito da conservação de pureza. Só mil anos depois, nos séculos 15 e 16, apareceu na línguas europeias no âmbito semântico de moralidade, virgindade, castidade e pureza, explicou Terdik.

As dúvidas sobre seu uso real se apoiam também no fato de, entre os séculos 14 e 16, não haver nenhuma alusão aos mesmos nas sátiras eróticas de Bocaccio, Bardello ou Rabelais, que trataram a sexualidade das pessoas comuns, os ciúmes e as artimanhas para enganar cônjuges e amantes.

Em 1548, no entanto, apareceu um cinto de castidade no catálogo do arsenal da República de Veneza, que pertenceu a Francisco II "O Jovem", terceiro senhor de Pádua, conduzido a Veneza e estrangulado em uma cela junto com seu filho durante uma guerra entre as cidades, em 1405.

Segundo os pesquisadores, Veneza criou uma lenda para manchar a imagem de Francisco II por utilizar em sua mulher e em suas inúmeras amantes os cintos de castidade, "um instrumento de tortura". Ele era, portanto, "um senhor sádico, perverso e tirano", que legitimava moralmente Veneza a tomar Pádua e a justificar o horrível crime.

"O fato de Veneza definir sua vítima como um "torturador" significa que o objeto não era, claro, socialmente aceito", comentou Terdik.

O cinto de castidade reaparece nas obras satíricas e nas artes figurativas dos séculos 16 e 17 para demonstrar a estupidez do homem que o impõe à mulher, enquanto ela entrega as chaves a um jovem, uma cena repetida que envolve uma moral da história: "Uma mulher não pode ser presa".

No século 18, Voltaire usou o conceito de castidade como a estupidez do homem. Trinta anos depois, um dos pais do Iluminismo, Diderot, o apresentou como símbolo da escuridão no Medievo.

É no século 19 que os cintos, mais refinados, pequenos e leves, são usados por algumas mulheres da Inglaterra e França para evitar a violência carnal e como garantia de fidelidade, além de serem impostos também a adolescentes da classe média para evitar a masturbação, que, naquela época, acreditava-se que podia gerar doenças físicas e mentais. No entanto, as funções repressoras que o Iluminismo atribuía à Idade Média entraram em prática de fato no século 19.