Política
e repetição de fatos: tragédias ou farsas
A política que já não é tão nobre tem ganhado
todos os dias um pouco mais da descrença do cidadão brasileiro, contudo precisa
ser ressaltado que é preciso elencar o olhar do povo para desejar o melhor para
as cidades. A política toma seus rumos, os políticos por vezes tomam o rumo que
os politiqueiros desejam. Rui Barbosa, grande jurista, diplomata e notável
escritor, além de extraordinário orador, deixou um escrito que nos faz refletir
sobre a atual situação da nossa sociedade e parece que aqueles pensamentos de
outrora ainda permanece elucidativo. Escreveu ele: "de tanto ver triunfar
as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a
injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem
chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser
honesto..." A indignação de Rui
Barbosa, ainda que tenha sido no século passado faz sentido e é digna de nossas
reflexões.
Sabemos que na política profissional precisa-se
fazer alianças, não de meras alianças, mas de junções que permitam ter o maior
número de aliados, de preferência com poder financeiro. Afinal, não se faz
política sem “recursos”, pois o objetivo central da política desvia-se da
conquista do voto do eleitor, para os meandros para conquistá-lo. Quando vi o Lula
apertando a mão do Maluf lembrei-me da História do Brasil durante o século XX. Recordo-me
de falarmos e estudarmos o tenentismo no Brasil, na década de 1920. Acredito
que um dos maiores marcos da História política brasileira foi a Coluna Prestes,
percorreu cerca de 25.000
km em território brasileiro até alcançar a Bolívia. Foi
um ato que provocou transformação social no Brasil, coadunou com o golpe de
1930 e mais precisamente com Getúlio Vargas no poder, situação que perdurou até
1945. Vargas e Prestes tornaram-se inimigos ferrenhos, Prestes foi preso por
ações comunistas, ficou encarcerado entre 1936 a 1945, sua esposa,
Olga Benário Prestes, foi extradita para os campos de concentração da Alemanha
Nazista e assassinada por ser judia. Os anos passaram Prestes foi liberto,
continuou com suas ideologias, contudo, retornemos a “janeiro de 1950” quando ocorreu o
inesperado. Getulio Vargas pede apoio ao líder comunista Luís Carlos Prestes
para sua candidatura à presidência. Apesar dos anos passados, era o mesmo
político que o havia mandado à prisão, proibido a existência de seu partido e,
mais grave, enviado sua esposa grávida para um dos mais desumanos campos de
concentração da Alemanha nazista. A resposta surpreendeu de companheiros a
inimigos: “Não posso colocar os meus dramas pessoais acima dos interesses do
partido”. “Aceito apoiá-lo”. O que isso tem a ver com o presente. Como Historiador
principiante da ética e decência, recorda-me que até alguns dias Lula e Maluf,
eram inimigos políticos: não é legal que
nos encontremos em uma estrada sozinhos, pode dar caca. Prestes e Lula são
políticos e me fazem pensar sobre a seguinte questão: Eles tomaram tais
atitudes, porque são capazes de pensar sempre no melhor para o povo? Ou, é
preciso tomar alianças poderosas para adquirir a Prefeitura de São Paulo-SP, a
capital sem planejamento, com cultura elitista e sob o poder desta mesma elite há
décadas.
Alguém pode questionar os motivos de outrem
escrever algo fora da nossa realidade. Será? Tudo se torna bastante
questionável, exaltador das discussões dos bastidores da Política, haja vista
não está definido e podemos perceber que algo aparece na escuridão das
eloquentes conversas análogas das eleições em todo o país. Poderia dizer como historiador que de quando
em vez os políticos precisam negociar aquilo que deve ser melhor para o povo,
para as cidades, que precisa voltar a crescer e buscar novos meios de
empregabilidade para a população, independente da cidade ou Estado. Contudo,
também podemos voltar ao século XVII e dizer, parafraseando Chico Buarque de
Holanda, exímio analista de “Calabar: O Elogio da Traição”, que o homem nesta
vida precisa nem que seja por uma só vez tomar atitudes e escolher um lado para
caminhar. Domingos Fernandes Calabar, um dia mudou de lado, contudo acredita-se
que teve a honradez de se manter do lado que seria melhor para o Brasil
Colonial do século XVII, mais precisamente do nordeste - açucareiro que
prosperava com a colonização mantida naquele período pelos holandeses. A
pergunta hoje pode ser: Será que os desejosos de alianças querem parceiros
políticos ou politiqueiros? E assim, após a eleição lhes renda cargos de
confiança, que não seja em suas cidades, mas pode ser na vizinhança. É pertinente
nosso questionamento se levarmos em consideração que os anos vindouros é que
ficam em jogo, pois já não há o êxito de se ter a integridade, vale mais a
palavra oca sem compromisso. Se o dito popular, em desuso, dizia: que um
fio de bigode era parte da palavra de um homem. O que podemos pensar sobre a
palavra política e dos políticos na atualidade? Como podemos definir a
conjuntura de políticos que ora se amam ora se odeiam? Como entende-los,
localizá-los ou tratá-los politicamente se por vezes criticam e em pouco tempo
mudam seus discursos? Não obstante, tratam os seus eleitores como meros
receptores de conversas afiadas, falam com os cidadãos tratando-os como
analfabetos do mundo político. Tudo bem de os politiqueiros nos tratarem como
se todos não quisessem um Brasil melhor, mas, por favor, não nos banalizem
tanto. Somos um povo de democracia nascente, mas os Demóstenes não são imaculados.
E nem a população é tão modesta que não possa compreender a maldade existente
nas jogadas políticas de nossa atualidade.
Claudinei Araújo dos Santos. Licenciado em
História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Nova
Andradina. Leciona História e Sociologia na Escola Estadual Profª. Fátima
Gaiotto Sampaio. Estuda atualmente religiões e religiosidade no Processo de
colonização do Vale do Ivinhema-MS (1954-1980).
Olá Claudinei, boa noite.
ResponderExcluirObrigado pelo envio de sua postagem. Certamente, em relação a temas como esse, sempre temos muitos aspectos para discutir, concordando ou discordando do todo ou de partes. De qualquer forma, fica aqui uma observação bastante geral: uma boa formação política exige discussão qualificada e postagens como a sua são muito importantes para instigar o senso crítico e provocar um bom debate, especialmente entre os seus alunos, que têm a sorte de contar com um grande professor. Longa vida ao blog e um abraço. Ângelo Emílio