segunda-feira, 28 de maio de 2012

Igreja Católica admite que sabia de crimes da ditadura argentina

Igreja Católica admite que sabia de crimes da ditadura argentina

 

Buenos Aires - A Igreja Católica confirmou pela primeira vez perante a Justiça que, pelo menos desde 1978, sabia que a ditadura militar assassinava as pessoas detidas-desaparecidas, coisa que jamais tinha tornado pública, e que as suas máximas autoridades discutiram com o chefe supremo da ditadura a respeito de como administrar a informação sobre esses crimes. A admissão tardia produziu-se com o reconhecimento da autenticidade do documento publicado pelo Página/12 no dia 6 de maio último, sobre o diálogo secreto com o ditador Jorge Videla, de 10 de maio de 1978, depois de um almoço do qual participaram os três membros da Comissão Executiva que conduzia a instituição. Em que pese a gravidade das revelações, tanto o Episcopado como o Vaticano e a grande imprensa guardam um escandaloso silêncio a respeito.

A questão das listas
A judicialização do documento eclesiástico produziu-se no processo aberto para determinar o que aconteceu com os restos mortais de Roberto Santucho, a pedido de sua família, representada pelo advogado Pablo Llonto. Santucho foi abatido por um grupo do Exército em 19 de julho de 1976, e seu corpo exibido à imprensa no Campo de Maio, mas logo desapareceu sem explicações. Após a confissão de Videla a um jornalista espanhol e a outro argentino sobre os assassinatos dos detidos-desaparecidos, a juíza federal de San Martín, Martina Forns, responsável pela causa, citou o ex-ditador. Videla disse que ele tinha decidido ocultar o destino dos restos mortais de Santucho para evitar homenagens, mas que quem sabia o que se tinha feito com eles era o então chefe do Campo de Maio, general Santiago Riveros.

Diante do cuidadoso interrogatório preparado por Forns, Videla respondeu as suas perguntas por mais de três horas. Sem eufemismos, disse que os detidos-desaparecidos eram “condenados” e “executados” e que esse método tinha sido adotado por comodidade, porque acreditavam que “não provocaria o impacto de um fuzilamento público”, que “a sociedade não toleraria”. Acrescentou que “era difícil pensar que tantas pessoas podiam ser julgadas e a Justiça estava assustada com a perseguição que os juízes tinham sofrido” pelo Camarón, o tribunal especial que atuou entre 1971-73, durante a penúltima ditadura.

Quando Forns o interrogou sobre as listas de pessoas detidas-desaparecidas, Videla respondeu que essas listas eram incompletas e que não as publicaram integralmente porque continham erros e inexatidões e não houve acordo entre as três Forças Armadas que compartilhavam o governo. Acrescentou que a informação sobre o destino de cada pessoa é “uma obrigação moral”, mas que não é fácil cumprir com ela, “dada a forma clandestina como se procedia e em alguns caos não há rastros dessas atividades para publicação”.

Um diálogo entre amigos
Mas durante o almoço com o cardeal Raúl Primatesta, arcebispo de Córdoba, o arcebispo de Santa Fé, Vicente Zazpe, e o de Buenos Aires, cardeal Juan Aramburu, que eram os presidente e vice-presidente do Episcopado, Videla deu outra explicação, muito mais sincera, a respeito da publicação das listas e do que se passou às pessoas detidas-desaparecidas. Isso consta numa minuta para o Vaticano, que os três eclesiásticos redigiriam após esse almoço e que foi reproduzida neste jornal, há três domingos, na nota: “Perguntas sem Resposta”.

Num clima que Aramburu descreveu como cordial, Videla disse que não era fácil admitir que os desaparecidos estavam mortos, porque isso daria lugar a perguntas a respeito de onde estavam e quem os tinha matado.

Primatesta fez referência às últimas desaparições produzidas durante a Páscoa de 1978, “num procedimento muito similar ao utilizado quando sequestraram as duas religiosas francesas”. Videla respondeu que “seria o mais óbvio dizer que estes já estavam mortos, seria o caso traçar uma linha divisória e estes desapareceram e não estão [mortos].

Mesmo que isso pareça o mais claro a ser feito, dá cabimento a uma série de perguntas sobre onde estão sepultados: é uma fossa comum? Neste caso, quem os pôs na fossa? Uma série de perguntas a que a autoridade do governo não pode responder sinceramente por conta das consequências disso sobre as pessoas”, quer dizer, sobre os sequestradores e assassinos. Primatesta insistiu na necessidade de se encontrar uma solução, porque previa que o método da desaparição de pessoas produzia “maus efeitos” de longo prazo, dada “a amargura que deixa em muitas famílias”. Referia-se de forma implícita à carta que, nesta mesma manhã o presidente fundador do CELS e uma das mais altas personalidades laicas do catolicismo argentino, Emilio Mignone, pai da detida-desaparecida Mónica Candelaria Mognone tinha lhe enviado.

Mignone tinha sido ministro da Educação na província de Buenos Aires na década de 1940 e vice-ministro da Educação nacional, na de 1960. O fundador do CELS escreveu a Primatesta que o sistema de sequestro, roubo, tortura e assassinato “tinha se agravado com a negativa de se entregar os cadáveres aos parentes, com a sua eliminação por meio da cremação ou de seus lançamentos ao mar, ou aos rios ou em sepulturas anônimas e fossas comuns” e se realizava em nome da “salvação da ‘civilização cristã’, a salvaguarda da Igreja Católica”. Agregou ainda que o desespero e o ódio estavam ganhando muitos corações.

No dia seguinte ao almoço, Zazpe informou a Mignone que a Comissão Executiva havia transmitido a Videla “tudo o que a sua carta disse”. Disse-lhe que tinham sido “tremendamente sinceros e não recorremos a uma linguagem aproximativa”, mas advertiu-lhe, como se tratasse de uma questão técnica acessória, que havia uma “divergência a respeito de sua carta” a respeito da publicidade ou não desta entrevista. “Nesta ocasião se voltou a recorrer à reserva”, que dura até hoje. Primatesta informou depois à Assembleia Plenária que os bispos levaram a Videla os casos assinalados na carta de Mignone, de presos que, na aparência, recuperavam sua liberdade mas na realidade eram assassinados; que estavam interessados nos sacerdotes desaparecidos, como Pablo Gazzarri, Carlos Bustos e Mauricio Silva, e em outros detidos cuja liberdade e envio ao exterior eram demandados.

Mas o desenvolvimento completo do diálogo só consta na síntese para o Vaticano. Quando Primatesta advertiu sobre as amargas consequências do método das desaparições forçadas, Videla consentiu. Ele também advertia a respeito, mas não encontrava solução, disse. Zazpe perguntou: “O que respondemos às pessoas? Porque no fundo há uma verdade”. Segundo o então arcebispo de Santa Fé, Videla “admitiu o problema”. Aramburu explicou que “o problema é o que responder para que as pessoas não sigam perguntando”.

Segundo Aramburu, quando Videla repetiu que “não encontrava solução, uma resposta satisfatória, eu lhe sugeri que, ao menos, dissessem que não estavam em condições de informar, que dissessem que estavam desaparecidos, for os nomes a que já tinham dado publicidade”. Primatesta explicou que “a Igreja quer compreender, cooperar, que está consciente do estado caótico em que estava o seu país” e que media cada palavra porque conhecia muito bem “o dano que se pode causar ao governo, com respeito ao bem comum, se não se preserva o devido volume”.

Depois da publicação, a juíza Forns solicitou a entrega do documento à Conferência Episcopal. Sem atraso, recebeu uma cópia. Assim, os dirigentes máximos católicos da Argentina corroboraram de forma oficial e num expediente judicial que tanto a Igreja argentina como a Santa Sé, para quem se confeccionou esta minuta, estavam a par tanto do assassinato das pessoas cuja desaparição era denunciada por seus familiares e pelos organismos dos direitos humanos.

Cópia Fiel
O fac-símile que se publica na figura 1 foi o que se obteve de forma sub-reptícia na sede da rua Suipacha, que o próprio Videla deu à Conferência Episcopal antes de deixar o poder, em 1981. No da figura 2 se pode observar o número com que está arquivado, o que dá uma ideia da magnitude desse arquivo, cuja existência mesma a Igreja negou, numa nota que, no ano 2000, dirigiu-me o seu presidente, o cardeal Estanislao Karlic. A figura 2 é aquele que a atual direção episcopal, dirigida pelo arcebispo de Santa Fé, José Arancedo remeteu à juíza Forns. Nela se lê “É cópia fiel” e abaixo, à direita, consta o selo da Conferência Episcopal Argentina.

Em ambos os exemplares desse documento secreto se observa que a afirmação de Videla sobre a proteção a quem cumpriu as suas ordens criminais está completada a mão por Primatesta. Em que pese a enorme transcendência deste reconhecimento demorado, nenhuma autoridade eclesiástica fez a menor referência pública ao tema, ainda que a Comissão Executiva tenha se reunido em 16 de maio último e tenha emitido um documento, questionando a lei de morte digna sancionada pelo Congresso.

Como se a enormidade do fato lhes cortasse a palavra, tampouco os diários Clarín, La Nación e Perfil deram-se por informados da publicação desse documento fundamental para estabelecer o grau a que chegou a cumplicidade da Igreja Católica com a ditadura militar e sua política criminosa.

Trinta e cinco anos depois, o encobrimento continua. Quando o jornalista espanhol Ricardo Angoso o entrevistou na prisão que o Serviço Penitenciário Federal mantém no Campo de Maio, Videla disse que “minha relação com a Igreja Católica foi excelente, muito cordial, sincera e aberta”, porque “foi prudente”, não criou problemas nem seguiu “a tendência esquerdista e terceiro-mundista” de outros Episcopados. Condenava “alguns excessos”, mas “sem romper relações”. Com Primatesta até “chegamos a ser amigos”. Nota-se.

Tradução: Katarina Peixoto
www.cartamaior.com.br

sábado, 26 de maio de 2012

Uma cidade e Muitas Histórias


Tenho tido a percepção de que a cidade de Nova Andradina-MS, é a menina dos olhos de muita gente, especialmente de pecuaristas e políticos, perceptivelmente notabilizamos que a cidade também é fruto de uma bela História Política, haja vista Antonio Joaquim de Moura Andrade, não veio conhecer estas terras por mera coincidencia ou acaso. Ainda é possivel salientar de o período ser da chamada Marcha para Oeste brasileiro, sonho criado pelo presidente Getulio Vargas na década de 1930.
Neste sentido vale ressaltar o empreendedorismo de Moura Andrade, que comprara algumas terras na região do atual vale do Ivinhema, se encantou por outras e deu-se ao compromisso de solidificar suas riquezas em terras do Estado de Mato Grosso. Bom, com este homem algumas figuras de época tornaram-se memoráveis, inesqueciveis, imprescindiveis para o acontecimento de uma futura cidade. Quando falamos com familiares destes, logo ressaltam da memória os nomes de Geraldo Lima, João Teodoro Braga, Geraldo Rezende, Durval Andrade Filho, entre outros que formaram a chamada classe reconhecida de Nova Andradina.
No dia 20 de dezembro de 1958, por meio da Lei nº. 1.189, foi criado o município de Nova Andradina, e como foi dito em linhas anteriores houve intermédio político, o Senador Auro Soares de Andrade, filho do dono da empresa colonizadora, é, o mesmo que solicitou em 1962, após a morte do pai, e as máquinas que o pai havia comprado para abrir a cidade, fossem retiradas e levadas para Andradina, interior do Estado de São Paulo. Uma história mais recente não é tão apaixonada pelos heróis de nomes expressivos, mas de heróis esquecidos pela midia, ou a sociedade mais abrangente, esta história costuma revelar pessoas que ficaram escondidas nas fotografias e provavelmente quando apareceram, seus nome sequer foram citados. A cidade de 52 anos tem moradores que podem ser chamados de desbravadores, homens de gana, de paixão pela terra, relevantes ao processo de colonização.
Neste sentido, vale ressaltar os quantos homens e familias foram essenciais para o crescimento e desenvolvimento de Nova Andradina, suas influencias e seus embates em diversos ramos de trabalho. Não obstante, é necessário lembrar que não apenas dos compradores e vendedores de madeira e gado foi construído o espaço, mas também daqueles que cortavam a madeira e campeava o gado no pasto, ou seja, o trabalho manual, a mão-de-obra, é um fator indelével do passado de uma cidade.
Enfim, o sentido deste texto é salientar a necessidade do reconhecimento aos que de alguma maneira contribuíram para a construção de Nova Andradina, vislumbrando não apenas quem comprou e edificou este ou aquele estabelecimento, mas também os participantes e fortes colaboradores para a realização da situação. É preciso que a nossa história identifique os motoristas de caminhão de tora, o da patrola, do jipe, identificar as casas de madeira que o tempo está a ruir, principalmente no Bairro Vila Operária de Nova Andradina e precisa ao menos ser fotografado e entregue ao museu municipal. Parece banal, mas a zona de baixo meretrício de Nova Andradina, ainda faz parte de uma história presente, de maneira alguma pude ver ressaltado na imprensa as mulheres que um dia foram essenciais para o lazer de políticos, delegados, fazendeiros e outros. Indicamos ainda questionar senhores já bem velhinhos em lugares bem recantados de Nova Andradina. Por exemplo, alguém sabe o porquê de antigamente a Vila Operária, ser chamada de MALOCA? Legal. Eu sei. Ahhh, e sei também quem sabe. Indaguem a memória popular. O passado é um requinte presente na memória de muitos.
 
Foto - Construção da Igreja Matriz, 1972. Da esquerda para direita: Cassimiro Araújo, Antonio Defaveri, Luiz Defaveri e atrás um cidadão conhecido como Frango Duro.

Tempos de Paz

TEMPOS DE PAZ

Inspirado na peça do dramaturgo Bosco Brasil, o diretor brasileiro Daniel Filho traz o surpreendente encontro entre o chefe da imigração brasileira e um ex-ator polonês que, ao desembarcar no Brasil, é confundido com um nazista fugitivo. O filme "Tempos de Paz", mostra como os eventos históricos e políticos da época retratada interferem na vida dos personagens interpretados pelos atores Tony Ramos e Dan Stulbach.
A história se passa em abril de 1945, quando a Europa já vislumbrava o fim dos combates da 2? Guerra Mundial e o Brasil digeria o anúncio da Anistia Política da Era Vargas (1930-1945). ? nesse contexto em que ocorre o embate entre Segismundo (Tony Ramos) e Clausewitz (Dan Stulbach).
O primeiro, um ex-torturador da polícia política de Getúlio Vargas, vê sua paz ameaçada por temer a vingança de suas antigas vítimas, libertadas pela Anistia. Já o estrangeiro tem a esperança de entrar no Brasil para reconstruir sua vida e apagar da memória os traumas do conflito armado. Para tanto, terá que usar todo seu talento para provar que não é um seguidor de Hitler. A disputa se dá entre a capacidade de convencimento do polonês e a resistência do ex-torturado.
Tempos de Paz
Direção: Daniel Filho
Gênero: Drama
Tempo: 80 minutos
Classificação: 12 anos

Memórias de um Tempo Presente

Este Blog tem por perspectiva pesquisar o tempo passado mantendo em contato o que a História tem em tempo Real. Neste sentido, vale ressaltar que nos remeteremos a músicas, vídeos, textos entre outra atuações em prol do fato histórico.